Estudos mostram prejuízos reais em longo prazo. “A Radiação sem Fio é tóxica e degrada o sistema imunológico, como provam vários estudos”, afirma a engenheira Eletricista e professora Adilza Condessa Dode, especialista e autora de vários estudos sobre a radiações eletromagnéticas.
A quinta geração do sinal de Internet, o 5G, foi liberada em Belo Horizonte, no dia 29 do mês de julho. Por hora, somente alguns bairros da Capital têm a cobertura que está disponível para celulares compatíveis. No Belvedere e no entorno, o sistema ainda está muito instável e somente em alguns locais é que os usuários têm conseguido o chamado “5G puro”. Aos poucos, a cobertura será completa em toda a Região Metropolitana.
Já em Nova Lima, a legislação atual não permite a implantação da nova geração de conexão. Contudo, um grupo de trabalho foi formado para avaliar as alterações necessárias e dar prosseguimento aos trâmites de aprovação do projeto, já em fase final de elaboração. Segundo a Prefeitura, em breve será enviado para aprovação na Câmara Municipal.
Com todas as capitais caminhando para a implantação, renasce o impasse entre os órgãos reguladores que, por um lado, afirmam não haver nenhuma comprovação de que a tecnologia afete a saúde da população e, por outro, pesquisadores que afirmam haver prejuízos ao sistema imune, podendo causar várias doenças, entre elas, o câncer.
Os perigos da radiação
De acordo com o Relatório Economia Móvel 2019, da GSMA, no Planeta, 5,1 bilhões de pessoas usam telefone celular e, segundo levantamento anual da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Brasil, 242 milhões de celulares inteligentes estão em uso. O País possui mais de um smartphone por habitante. São mais de 200 milhões de habitantes expostos às radiações eletromagnéticas não ionizantes de telefonia celular.
“A radiação ionizante, por exemplo, tem energia capaz de arrancar elétrons dos átomos. No caso do corpo humano, pode causar alterações de DNA que provocam mutações e o câncer. A radiação não ionizante possui frequência igual ou menor que a faixa de frequência da luz visível, possui energia suficiente para mover átomos em torno de uma molécula ou fazê-la vibrar, mas não o suficiente para remover elétrons de sua órbita e ionizar átomos. A Radiação sem Fio é tóxica e degrada o sistema imunológico, como provam vários estudos”, afirma a engenheira Eletricista e professora Adilza Condessa Dode, diretora da MRE Engenharia e moradora do Belvedere.
Segundo ela, muitas novas antenas serão necessárias e a implementação em larga escala resultará em antenas a cada 10 a 12 casas nas áreas urbanas, aumentando assim a exposição obrigatória para todos os seres vivos. Estas antenas ficarão bem próximas ao nosso corpo. Adilza Condessa revela, em carta assinada por mais de 600 pesquisadores e apresentada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, em junho do ano passado, que várias pesquisas demonstram danos à saúde e danos ambientais significativos causados por Campos Eletromagnéticos (CEM).
Esses efeitos podem ocorrer em níveis de exposição substancialmente abaixo dos limites recomendados pela Comissão Internacional de Proteção contra as Radiações Não Ionizantes (ICNIRP) e adotadas pelo projeto de CEM da OMS, uma vez que esses limites objetivam apenas evitar o aquecimento agudo em curto prazo, não considerando os danos biológicos causados por um período prolongado.
Condessa explica que pesquisas do governo suíço concluíram que níveis baixos de exposição aos CEM causam graves problemas à saúde, especialmente para crianças, idosos e pessoas com enfermidades preexistentes. “A OMS não obriga os países a seguir esses limites. Países como China, Rússia, Índia, Suíça, não os seguem”, completa.
Nos últimos anos, a comunidade científica emitiu várias convocatórias importantes, resoluções e outros documentos, advertindo as autoridades de saúde pública sobre a necessidade de redução dos limites de exposição aos CEM, como forma de diminuição dos riscos associados. Numerosas publicações científicas recentes mostraram que o CEM afeta os organismos vivos em níveis bem abaixo da maioria das diretrizes internacionais e nacionais.
Um estudo realizado pela Fiocruz, com participação de Adilza Dode, mapeou todas as cidades do Brasil com as maiores concentrações de câncer onde havia antenas, com objetivo de estimar taxas de mortalidade por câncer em decorrência da exposição à radiofrequência da Estação Rádio Base (ERB).
O resultado mostrou que, nas capitais onde a exposição à radiofrequência foi superior a 2.000/antenas ano, a mortalidade média foi de 112/100.000 para todos os cânceres, ou seja, quanto maior a exposição à radiofrequência RBS, maior a mortalidade por câncer. Florianópolis apresentou a maior taxa de mortalidade por km2. O Estudo foi publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health, em 2021.
Um estudo anterior também verificou maior mortalidade por câncer nas proximidades das ERB. Dode realizou uma importante pesquisa com o objetivo de verificar a existência de correlação espacial ERB e casos de óbitos por neoplasia no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, durante o período de 1996 a 2006. Os resultados confirmaram a existência de correlação espacial entre os casos de óbito por neoplasia e as localizações das ERB no município de Belo Horizonte.
Os autores confirmam ainda que as taxas de mortalidade e o risco relativo foram maiores para os residentes dentro de um raio de 500 metros das ERB, em comparação com a taxa de mortalidade média de toda a cidade. A maior concentração de antenas localizou-se na regional Centro-Sul da cidade, que também apresentou a maior incidência acumulada. “Portanto, quanto mais próximo das Antenas, maior exposição humana às radiações eletromagnéticas. As antenas irradiam em todas as direções”, diz a cientista.
“É fundamental que as autoridades sanitárias de todos os países adotem limites mais restritivos em relação aos Campos Eletromagnéticos (CEM), considerando os efeitos biológicos provenientes da exposição de baixo nível por um longo prazo. Os membros da ICNIRP ignoram evidências de efeitos à saúde”, afirma Condessa. A ICNIRP é uma ONG sediada na Alemanha, para atender exclusivamente às necessidades da indústria das telecomunicações.
O que diz a ANATEL
“Apesar de terem sido poucos os estudos sobre a frequência utilizada pela nova tecnologia 5G, os resultados referentes ao efeito do aumento da temperatura no corpo, devido aos efeitos da emissão eletromagnética são insignificantes”, informa a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL).
A agência estabeleceu os limites e as formas de avaliação da exposição aos campos eletromagnéticos emitidos pelas estações de radiocomunicação através da Resolução nº 700/2018 e do Ato nº 458/2019. A monitoração da exposição é feita tanto pela área de Fiscalização da Anatel como pelos próprios detentores da estação de radiocomunicação.
No entanto, segundo os especialistas, é necessário urgente que este monitoramento das radiações eletromagnéticas seja realizado por empresas idôneas, sem conflito de interesses. “As medições devem ser também realizadas dentro dos imóveis nas proximidades onde se encontram instaladas as antenas transmissoras e não apenas nas ruas e avenidas. As operadoras devem ser notificadas pelos novos casos de câncer que surgirem nas proximidades das ERB’s”.